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TóTó é o nome carinhoso que ele me dá. Ar calmo e sereno versus um turbilhão interior. Serei eu assim, Para Sempre.

TóTó é o nome carinhoso que ele me dá. Ar calmo e sereno versus um turbilhão interior. Serei eu assim, Para Sempre.

Um caso perdido teria sucesso?

Olho para baixo, subo o murete, olho em frente, respiro fundo pela última vez e inclino-me. Sei que não há nenhum colchão lá em baixo, não há ninguém a aparar-me a queda. Só o chão rijo com pedras brancas, prontas a receber uma nódoa vermelha a percorrer os intervalos entre elas. Os gritos, as sirenes, um choro que perdura durante anos, uma angústia que aperta todos os dias no peito. O porquê, a culpa.

 

Viro costas à varanda.

 

Sou realmente um caso perdido mas tornar tudo mais fácil para mim acarreta muitas consequências para os outros e eles não têm culpa de eu existir, bem, os meus pais têm, por questões óbvias. Mas as minhas ações, os pensamentos que desenvolvo são meus, apenas meus e disso, eles não têm dedo de nada.

 

Por isso opto pelo isolamento, por dormir horas e horas, em viver em modo automático para não conviver comigo própria e com os meus pensamentos, que por sinal, não trazem nada de positivo. Portanto antes que se apoderem do meu corpo e das minhas reações, durmo.

 

Claro que a minha falta de coragem é um factor do caso perdido. Tanto para me atirar como para arriscar. 

 

Esta história do meu trabalho está a ganhar uma relevância muito grande. Está a desgastar-me muito psicologicamente, todos os dias a situação piora e o meu sistema nervoso fica tão alterado que o meu coração bate como se estivesse a correr durante horas, as pernas ficam num tremor que até dói e me enfraquece o andar e o meu coração só me pede para sair dali rapidamente mas controlo as lágrimas, o rancor que guardo na garganta e aguardo.

 

Não sei se faço mal o meu trabalho, às vezes tenho dúvidas que seja assim tão mau mas as reações a ele levam-me a acreditar que sim. Tento melhorar mas parece que só piora. E volta-se a repetir: Sou um caso perdido. Se ali está mal, noutro lado também vai estar, porque vou ser a mesma pessoa, por isso vou sofrer da mesma forma. Portanto concluo que devo merecer todas as reações negativas que me descarregam agora, todos os dias. Noutro lado será igual. Arriscar uma mudança talvez seja um desperdício de tempo. 

 

Tirei um curso pelo qual não me apaixonei, insisti com mais estudos, insisto mais um bocadinho mas mais uma vez, noto que sou um caso perdido. Em vez de dormir, deveria estar empolgada a trabalhar para o mestrado. Mas não, quanto mais penso no que tenho que fazer mais sono me dá. Para além do desperdício de tempo também é desperdício de dinheiro e a vontade de desistir torna-se cada vez maior.

 

Falemos então noutra parte da minha vida, a amorosa. Pois bem, também aqui sou um caso perdido, sou distante, não satisfaço como deveria, sinto que não o faço feliz como ele gostaria de ser. Ainda não temos filhos porque decidi tirar o mestrado e a ideia era ter depois do mestrado e sinto horrores por não ter vontade de fazer o mestrado mas também de não termos um filho. Sim, muitas vezes penso que lhe estou a roubar a vida e sinto culpa nisso. 

 

Quanto à minha família, também sou um caso perdido, um pouco afastada e em alturas deprimentes mais afastada ainda. Deveria apoiar mais os meus pais mas sendo um caso perdido nem isso consigo fazer. 

 

Em casa, com as tarefas domésticas mais propriamente também sou um caso perdido. O nível de água do Aspirador, o centro do bico do fogão, a arrumação dos talheres na máquina lavar loiça, a mesa da sala e a sala da desarrumação é o meu calcanhar de Aquiles. Faço mas não faço bem.

 

Provavelmente é o que acontece no trabalho, eu faço, acho que está bem mas para os outros não está, por isso está mal feito e depois acho que está tudo armado em parvo. Pois, não, eu é que estou parva, porque sou um caso perdido. 

 

Por isso concluo que de TóTó passei a caso perdido e estou a pensar até em mudar o nome do blog. 

 

Acham que um caso perdido teria mais sucesso? 

 

 

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