Terei o direito e a liberdade de me queixar, agora?
Todos os dias sinto-me grata por acordar, por acordar bem, sem sintomas. Pelos meus estarem bem também. Agradeço a esta situação por me ter aproximado mais do meu irmão, por estar em casa e por isso poder falar com mais tempo com a minha mãe. Sou grata por o j. poder estar em casa e não andarmos constantemente a pensar que pode trazer o virus para casa. Sou grata por ter trabalho e por receber ordenado (mesmo que não seja o que estava à espera). Sou grata por a única coisa que tenho que fazer é ficar em casa, onde há paz, amor, saúde diversão. Sou grata sim. Sou uma sortuda, até.
Se devemos viver no presente e um dia de cada vez, claro, sem dúvida. Se querem mais um motivo para estar gratos leiam esta entrevista da Visão. Sério, leiam mesmo, é bastante motivador.
O que quero refletir convosco é: dada as circunstâncias, temos o direito e a liberdade de nos queixar?
Serei ingrata e injusta em ter sempre o meu lado profissional a incomodar-me? Claro está, atendendo a que vou sobreviver ao vírus. (coisa que não está de todo de parte, porque pode acontecer a qualquer um de nós)
Há muita incerteza, em todos os ramos. O que é certo hoje, não será amanhã com certeza, e este virus mostrou-nos com todas as letras que nada é garantido. E é isso que me atormenta. Se a minha profissão nunca foi garantida, estou fartinha de saber, quando mudei de trabalho eu já sabia que ia ter o lado bom e o lado menos bom, mas o lado bom falou mais alto. Agora chegou o lado menos bom, mais cedo do que se esperava. E com ele chegou o que mais temia: a montanha russa. As dúvidas. Se por um lado vamos agarrar com unhas e dentes o trabalho, por outro, quando terminarmos não sabemos se haverá um pagamento. Não sabemos se haverá direito a lay-off e se há viabilidade para isso. A falta de trabalho e de pagamentos vai determinar a evolução da coisa e eu sei a minha posição. Eu não sou a pessoa mais imprescindivel da empresa. Tenho a minha intuição a dizer desde o inicio que vou voltar à estaca zero. Por isso pergunto-me, não terei eu que fazer um esforço maior, mais para mim e para minha família?
Valerá a pena fazer o esforço que me é pedido?
A resposta é: Não sei, não sabemos.