Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 5
- Como é possível não haver registos do estado civil dele? - gritou Joana, ao voltar à esquadra naquele final de tarde.
Os colegas GNR sabiam do caso dela com o Filipe, o homem que apareceu morto de uma forma macabra no jardim principal da vila, e que a partir desse dia passou a ser uma comandante demasiado severa. O único que conseguia fazê-la descer à terra era o cabo Azeredo.
-Minha comandante, pesquisamos tudo sobre a vítima Filipe Gomes, sabe que estive sempre em cima da PJ para lhe reportar os desenvolvimentos e nada nos disse que era casado e a naturalidade dele era algarvia, assim como a sua última morada.
-Quero essa mulher no meu gabinete, já! - asperou Joana.
- Não podemos fazer isso comandante Peres. O caso está entregue à PJ. Deixe-me denunciar esta situação a eles e pedir uma audiência com a tal mulher, de forma a que possa assistir sem se denunciar. Trazê-la aqui, assim, pode trazer-nos problemas a todos. - Azeredo conseguiu acalmá-la e evitar um tremendo disparate para a carreira de ambos e para o caso.
-Muito bem Azeredo. Avança. À civil, preciso que saibas algo sobre ela. És daqui, sabes a quem te dirigires.
Joana voltou ao seu gabinete e pegou no dossier do caso. Voltou a ver a derradeira foto. Ali estava ele, preso no banco com algemas, o escorrido de sangue já seco pelo tronco nu, o saco de plástico enfiado pela cabeça inclinada para a frente, uma tesoura espetada nos seus genitais.
Naquela noite ele tinha saído à socapa do seu apartamento, não fosse a Dona Custódia acordar pela milésima vez e encontrá-lo ali. Tinha sido uma louca noite de prazer, aquele homem tinha um gingar de levar aos céus. E ali estava ele, morto, assassinado, sabe-se lá por quem e porquê.
Parecia ser tão resolvido, tão seguro, tão honesto, tão simples.
-Caramba, quase que conseguia! Quase que conseguia ser feliz! - gritou, esperneando e arremessando tudo o que estava em cima da sua secretária.