Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

TóTó é o nome carinhoso que ele me dá. Ar calmo e sereno versus um turbilhão interior. Serei eu assim, Para Sempre.

TóTó é o nome carinhoso que ele me dá. Ar calmo e sereno versus um turbilhão interior. Serei eu assim, Para Sempre.

Desafio dos Pássaros 3.0 - Tema 5

- Como é possível não haver registos do estado civil dele? - gritou Joana, ao voltar à esquadra naquele final de tarde. 

Os colegas GNR sabiam do caso dela com o Filipe, o homem que apareceu morto de uma forma macabra no jardim principal da vila, e que a partir desse dia passou a ser uma comandante demasiado severa. O único que conseguia fazê-la descer à terra era o cabo Azeredo. 

-Minha comandante, pesquisamos tudo sobre a vítima Filipe Gomes, sabe que estive sempre em cima da PJ para lhe reportar os desenvolvimentos e nada nos disse que era casado e a naturalidade dele era algarvia, assim como a sua última morada. 

-Quero essa mulher no meu gabinete, já! - asperou Joana. 

- Não podemos fazer isso comandante Peres. O caso está entregue à PJ. Deixe-me denunciar esta situação a eles e pedir uma audiência com a tal mulher, de forma a que possa assistir sem se denunciar. Trazê-la aqui, assim, pode trazer-nos problemas a todos. - Azeredo conseguiu acalmá-la e evitar um tremendo disparate para a carreira de ambos e para o caso. 

-Muito bem Azeredo. Avança. À civil, preciso que saibas algo sobre ela. És daqui, sabes a quem te dirigires. 

Joana voltou ao seu gabinete e pegou no dossier do caso. Voltou a ver a derradeira foto. Ali estava ele, preso no banco com algemas, o escorrido de sangue já seco pelo tronco nu, o saco de plástico enfiado pela cabeça inclinada para a frente, uma tesoura espetada nos seus genitais. 

Naquela noite ele tinha saído à socapa do seu apartamento, não fosse a Dona Custódia acordar pela milésima vez e encontrá-lo ali. Tinha sido uma louca noite de prazer, aquele homem tinha um gingar de levar aos céus. E ali estava ele, morto, assassinado, sabe-se lá por quem e porquê.

Parecia ser tão resolvido, tão seguro, tão honesto, tão simples. 

-Caramba, quase que conseguia! Quase que conseguia ser feliz! - gritou, esperneando e arremessando tudo o que estava em cima da sua secretária. 

 

 

(podem ler o ínicio do texto aqui e depois aqui.)

Confiança, valor perdido?!

Sempre fui de guardar segredos, podiam dizer-me o que quisessem, pedir-me segredo e ele ficava ali, trancado a sete chaves. Há muitos anos que ninguém me pedia para "não contar a ninguém", mas no outro dia voltei a ser confidente. Por um lado sabe bem, quer dizer que transpareço confiança, mas por outro, sinto-me mal por perceber que, para aquela pessoa, há outras próximas dela e de mim, que não o são, e que para mim sempre foram.

E isto deixa-me a pensar se, não devia eu guardar as minhas confidências, como passei a fazer numa determinada altura da minha vida, quando me tornei num "bicho-do-mato".  Sim, parva eu sou, que por vezes falo da minha vida, a acreditar que posso falar à vontade, sem segredos. Mas se calhar não devia. E hoje, numa espécie de procura de respostas por causa da vacinação, voltei a desbocar-me toda. Só depois de me aperceber, martirizei-me mentalmente: "Porquê?"

Até que ponto podemos deixar que as pessoas entrem na nossa vida? Mesmo que as tomemos como boas amigas?