Desafio dos Pássaros - Tema 2
No primeiro dia que Joana pisou a calçada daquela vila, pressentiu que não ia passar despercebida e que não haveria de ter muito descanso. Dona Custódia estava encostada à paragem do autocarro, com os olhos fixos em cada pessoa que o descia. Soube logo que era ela e aproximou-se.
- Olá, boa tarde. Sou a Custódia, a sua vizinha do rés-do chão e tenho muito gosto em acompanhá-la até casa. Só não consigo ajudar com as malas, por que sabe...dores da idade.
- Boa tarde, agradeço-lhe imenso mas tem a certeza que sou a pessoa que tem esperado? - disse Joana, com dúvidas da senhora idosa, vestida de negro e de bengala na mão.
- Então não sei! É a Joana, a comandante do posto da GNR aqui da vila. Filha, que orgulho ter uma mulher a pôr os bandidos em sentido! Foi a minha nora que me disse que ia ter uma vizinha da GNR e que chegava hoje à tarde na carreira de Louriça. Vamos andando, fiz-lhe uma sopinha de feijão muito boa que até os meus netos se lambuzam com ela. Também fiz um bolo de laranja para comermos logo ao serão com um cházinho.
"Chá! Serão!" pensou Joana. Ainda mal tinha assente os pés naquela terra e já estava amarrada à velhota. Joana estava incrédula a observar aquela senhora, enfezadita mas cheia de força na língua.
Quando chegaram à nova casa de Joana, Dona Custódia fez a visita guiada, justificando-se de que tinha trabalhado para o senhorio quando era nova, fazendo visitas aos apartamentos do prédio e de outros prédios dele, por isso conhecia os cantos todos da casa. Joana agradeceu e depois da visita guiada, disse-lhe que precisava de um banho quente e de começar a arrumar as suas coisas.
- Claro, menina. Esteja à vontade. Eu vou até lá abaixo a casa, preparar o seu jantarinho. Esteja à vontade.
A verdade é que a casa não era realmente de Joana mas se ia pagar renda, era como se fosse dela. O "esteja à vontade" pareceu-lhe demasiado invasivo e previu problemas de privacidade.
Depois do banho, encaminhou-se para a sala que partilhava uma pequena cozinha e voilá, Dona Custódia, sem bengala e de passo ágil andava de volta de uma chaleira. A seu lado, na bancada, havia uma panela e um prato com um bolo de cor bonita e que estava a adocicar o ar do pequeno espaço. Joana recordava a sua avó, já falecida, a fazer o mesmo quando ela era pequena.
- Não consigo pôr a água a ferver com esta coisa. Não assenta no bico do fogão.
- Dona Custódia, se me permite, vou explicar-lhe. É que este aparelho é elétrico, liga-se à tomada.
- Ai filha, obrigada. Estou tão desatualizada com estas coisas. Que disparate!
Ligou a ficha e soltou um animado "Ah! Afinal havia outro fogão!". Ambas riram-se muito.
Joana sabia que a sua vida dali para a frente não ia ser fácil mas também era bom ter companhia.