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TóTó é o nome carinhoso que ele me dá. Ar calmo e sereno versus um turbilhão interior. Serei eu assim, Para Sempre.

TóTó é o nome carinhoso que ele me dá. Ar calmo e sereno versus um turbilhão interior. Serei eu assim, Para Sempre.

O minuto que mudou a minha vida.

19 de Maio. 16.30h.

"Isto não correu bem."

Esta é a frase que ecoa no meu coração. Este momento marca em simultâneo o fim e o início de uma vida, pois a menina das 16h não voltou à rua naquele dia. Ficou na marquesa...sem batimentos cardíacos...

 

Sofri um aborto. Um aborto retido. Sem sintomas, sem sinais de que algo não estava bem. Durante 1 mês tive um embrião sem vida dentro de mim e abraçava-o todos os dias. Fazíamos tantos planos juntos, já eram 13 semanas de muito amor. 

Por isso foi tão complicado acreditar e essa dificuldade tornou-se ainda maior ao deparar-me com um diagnóstico de uma gravidez que se desenvolveu  de forma maligna. 

 

Não foi "só" um aborto. Resumidamente foi uma trapalhada cromossomica com consequências cancerígenas. O seu nome: Mola Hidatiforme.

 

Foram uma tarde e noite inexplicáveis. Todos estes sentimentos que senti e sinto não se conseguem explicar, nem verbalmente, e muito menos por palavras. Eu sinto e apenas sinto. E choro. Pela perda. Pelo medo do desconhecido.

 

Tive medo, muito medo, que corresse mal. Já não bastava termos perdido um filho tão desejado, quanto mais se as coisas corressem mal para mim. Eu só desejava que o tempo passasse mais depressa. Eu sabia que não havia nada a fazer e que naquele momento as consequências podiam ser piores para a minha saúde. 

 

No dia seguinte, bem cedo, pusemo-nos a caminho do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para fazer o que tinha que ser feito. Fazer a aspiração uterina e retirar o pequenino de 2 cm e todo o "cancro" que o envolvia e que o afastou da minha vida.

 

Felizmente todo o procedimento correu bem. Desde a triagem até à alta, fui sempre muito bem acompanhada e acarinhada, pela equipa médica, enfermeiras, médicos, auxiliares, até mesmo os seguranças. Foi tudo excelente nesse sentido. Ajudou muito sentir esse calor humano, uma vez que o j. não podia passar do edifício para dentro por causa do COVID. É realmente triste e doloroso não ter o nosso homem ali connosco, fisicamente, para ele então, não ter a certeza visual de que eu estava bem, deve ter sido quase insuportável.

Mas ainda sobre o pessoal médico, se sempre tive uma grande consideração pelos profissionais de saúde, hoje posso dizer, na pele, que temos óptimos profissionais e que mereciam muito melhores condições. Sem dúvida. 

 

Mas o procedimento não terminou. Durante um mês, todas as semanas, terei que voltar ao Hospital, fazer análises e ter consulta para controlar os valores. Se não baixarem o suficiente, quer dizer que terei que fazer quimioterapia. Se tudo correr pelo melhor, que eu acredito que sim, o meu obstreta fez questão de me ajudar a acreditar nisso, o controlo passa a ser apenas mensal. Mas durante o próximo ano é impensável ter um bebé. 

 

Hoje foi a primeira consulta no hospital. Está tudo a correr bem. Ainda não saíram os resultados da análise patológica para confirmação do diagnóstico, mas os valores de HCG baixaram consideravelmente, o que são óptimas notícias! Mas tenho que ter calma...Apareceu-me só um cansaço que não era normal antes e que pode ser uma anemia ou a minha tiróide a fazer das suas. Mas será mais uma situação a controlar. 

 

Os primeiros dias, de certa forma, foram melhores do que hoje. Hoje custa-me muito mais. Custa-me ouvir um bebé chorar. Custa-me olhar para os bebés ou ver uma mãe a embalar o seu bebé. Choro que nem uma tonta. Mas é agora que tenho que chorar e desabafar.

Tenho altos e baixos durante o dia. Há coisas que não consigo enfrentar sem encher os olhos de lágrimas. Por exemplo, passar pela seção de bebé no supermercado, ou ver a seção de bebé da farmácia. Ou ver vídeos de bebés ou coisinhas de bebé, nas redes sociais.

O cérebro pára em alguns momentos que se passaram e fico ali a recordar as coisas. Não me consigo ainda concentrar muito bem.

 

O j. sofre também com a situação, obviamente, era um filho muito querido e ele fazia questão de dar beijinhos e falar com ele. Mas também sofre quando me vê chorar ou se não me sinto tão bem em algum dia. E pergunto-lhe se ele está bem, digo-lhe que não tem que ser forte sempre, para ele também é  difícil. Tem sido uma força muito grande para mim. Temos sido tão fortes juntos. Estamos mais unidos que nunca. E não há dúvida nenhuma que tenho um ser humano com um coração enorme a meu lado, uma força extraordinária e que me mostra amor em tudo o que faz. 

 

Agora é descansar o mais possível, tentar espairecer o mais possível, estar tranquila o mais possível.

Acreditar, o mais possível, que vai ficar tudo bem.

Making Rainbows.jpeg

 

Este é um desabafo muito íntimo, que sempre pensei em expô-lo aqui com um único propósito: dar força às mulheres que passam por abortos. Sejam naturais ou retidos, mais simples ou complicados como o meu, um aborto será sempre um aborto. Para quem planeou ou aceitou um filho na sua vida, passar por uma situação destas, é MUITO doloroso, é uma sensação de impotência, podendo passar mesmo por sentimentos de culpa. E se eu conseguir mandar força e energia positiva através da minha experiência, e das minhas palavras, ajuda-me também a superar melhor a situação. 

 

Dois meses de quarentena muito resumidamente. .

Hoje faz precisamente 2 meses que comecei a quarentena. Passou depressa. Teve os seus momentos bons e outros menos bons.

Fiz pão uma vez, não fiz mil e uma receitas partilhadas nas redes sociais, fiz muito pouco exercício, instalei o tik tok e fiz só um vídeo, que não partilhei em lado nenhum. Não vi diretos do corpo dormente.

Fiz apenas umas alterações nos armários da cozinha, a sala de desarrumação continua no seu auge desorganizado. 

Fiz encomendas online de livros e de um tinteiro para a impressora. Imprimi mas não li nenhum livro que comprei. Não voltei a entrar num hipermercado (o j. fez questão de o fazer).

Não andei muito pela netflix mas descobri a fox comedy depois das 20h. Vi o primeiro episódio de Friends, acho que nunca tinha visto.

Nunca mais beijei os meus pais. Nem vi as crianças da minha vida. Chorei baba e ranho mas também soltei algumas gargalhadas. Tive discussões mas também momentos de carinho e de ternura.  Trabalhei demasiado, ao ponto de começar a odiar o que faço. 

Na 2ª feira será dia de regresso à rotina pré-quarentena. Ontem tive o pequeno ensaio para não custar tanto.

Detesto sair à rua e ter aquela sensação de insegurança. É estranho ver pessoas de máscaras, ter que usar máscara. Mas não me posso queixar porque há pessoas que estão muito mais expostas e mesmo assim continuam. 

Agora só quero aproveitar o fim de semana e o sol. 

Aproveitem também. 

E que tal estes apoios "COVID-19" às empresas?

Acredito que hajam empresas em sérias dificuldades pois têm muitos trabalhadores em mãos e sem produção, sem lucros, é e será dificil manter postos de trabalho e continuidade de trabalho. Mas nem todas serão assim, pois não? Há quem se vá aproveitar da situação, certo?

O meu pai conta-me que há uns bons anos, houve apoios europeus para a agricultura e que muitos usaram esse dinheiro para plantar uma vinha, comprar jipes e remodelar a quinta.

Nestes tempos complicados que enfrentamos, acho que estamos a passar por uma situação semelhante. Para alguns, acredito que hajam muitas dificuldades...mas para outros...não me parece. 

Infelizmente estou a passar por uma situação muito estranha ao nível profissional e se há uns dias me queixei, hoje tinha muito mais para me queixar mas não o faço. Só vos digo que tinha boas razões para apresentar uma queixa ao ACT.

Acho que estamos a caminhar para uma situação do género "Passámos momentos muito difíceis, consegui manter-vos os postos de trabalho, por isso, agora esforço e sacríficio, temos que trabalhar mais mas não vos posso compensar por isso."

 

 

Entretanto hão-de aparecer à vossa frente com um carro novo.

 

 

Um pequeno desabafo em estado de calamidade.

Passar a estado de calamidade não me dá alento nem alívio. Antes pelo contrário, provoca-me a mesma ansiedade que tive quando tudo isto começou, ou até mais. Não me sinto segura em saber que agora já podemos estar menos confinados em casa. Não me sinto segura em sair. Se dantes toda eu era um atropelo a fazer compras, ir à farmácia ou o que fosse, agora nem quero imaginar.

Nós sabemos como são as "pessoas". Até gostava de ser como elas. Otimistas e com tomates para enfrentar qualquer bicho. Mas provavelmente vão exagerar, não vão saber comportar-se e usar corretamente as proteções individuais. Se calhar nem as Já estou mesmo a ver deixarmos de ser o país exemplo de um momento para outro.

Sei perfeitamente que esta mudança se trata da muita pressão das empresas que precisam de faturar, de pagar aos colaboradores, de instituições que não tem mãos a medir com a pobreza que o vírus trouxe, de uma segurança social que deve estar a rebentar pelas costuras e portanto, todo um estado a precisar de  dinheiro. Mas continuo a achar que é muito cedo. E tenho medo.

Ainda não sei o que a minha entidade patronal vai querer fazer. Muito provavelmente devo estar a voltar ao escritório em breve. E que agonia. Isto pode soar a ingratidão nestes dias mas este tempo todo a trabalhar a partir de casa, fez-me perceber que estou fartinha da minha profissão e de ter a mesma espécie de indivíduo a chefiar-me. Neste tempo de trabalho à distância, conseguimos entender melhor as pessoas e no meu caso, não foi para melhor.

Mas como nenhum desabafo muda o quer que seja, só quero que sejam todos conscientes de que isto não é o fim. A quem vai recomeçar as suas atividades profissionais muita força, muito cuidado. A quem vai sair de casa só porque sim, tenham cuidado e não façam asneiras. 

A todos, muita saúde!