Numa questão de segundos, com um passo mal dado acabamos por partir um pé. Porque a calçada portuguesa escorrega para caraças, porque o pavimento são só altos e baixos, porque o nosso sistema de equilibrio nos falha.
Neste caso de Borba, uma movimentação de terras culminou num dominó de solo que ali estava há anos na eminência de ruir e do conhecimento de muitas presidências que, provavelmente, por saber os custos para a construção de uma estrada alternativa ( ou da sua inviabilidade) ou da contenção daquela mesma estrada seriam um golpe no orçamento. E todos sabemos que eles precisam é de umas festarolas e coisas para inaugurar. Não os condeno, nós gostamos mesmo de boa vida, quem não?
Mas também sabemos que antes de comemorarmos algo há todo um trabalho e esforço por detrás. Neste caso até houve quem se desse ao trabalho de fazer inspeções e alertar para o risco e claro, estamos todos a pagar impostos para tudo e para nada e no fim continuamos a viver em terreno falso.
Sim, terreno falso.
Façam o seguinte exercicio, revejam ao pormenor os locais por onde passam todos os dias, começando por vossa casa.
Antes de habitarmos na nossa casa, houve a construção da mesma. Para chegarmos ao emprego, seja por via pedonal ou rodoviária, ferroviária, houve a construção dessas infraestruturas. Para termos um tecto que nos mantém lá dentro 8 horas (ou mais ou menos) houve a construção do mesmo. Se almoçamos no shopping é porque houve a construção do mesmo. Se nos sentamos no banco do jardim a ler é porque houve a construção desse mesmo jardim. Olhem à vossa volta. Não vêem muita construção?
E a construção é uma coisa bonita, sou suspeita porque trabalho no meio dela, sei que muitos vão dizer que aquilo é horrivel, muito barulho, muito pó, muita sujidade "C'orror" e podia ter muitas melhorias é verdade, mas isso é outro caminho e outra história. Mas vejam, todos os espaços que frequentamos e que gostamos foram alvo de construção, sem ela isso não era possivel, certo?
Mas não basta a dita construção, não basta ficar tudo bonitinho, com uns cerâmicos todos janotas, loiças sanitárias de marca, mobiliário e decoração super in e dizer, "daqui a 10 anos mudo isto tudo outra vez". Pois. É isso que vende. O que nos agrada à vista. A construção em massa que está a acontecer actualmente não é de todo perfeita, como mostram na tv e nas revistas, há prazos para cumprir e há muito dinheiro envolvido e por muito organizados que sejam, algo vai correr mal mais tarde ou mais cedo. Muitas vezes nem sabemos nem queremos saber sequer o que está por detrás das paredes, acima do tecto e debaixo do chão. "Desde que funcione". E muitas vezes não sabemos cuidar dessas coisas. O ar condicionado, os esgotos, todos os equipamentos. Temos que saber fazer manutenção em nossas casas. E a manutenção não é sinónimo de pó e sujidade e fechar divisões de casa durante semanas. Antes pelo contrário, é algo simples e rotineiro. É tratar bem a nossa casa, os espaços que frequentamos. E o que é alheio aos nossos cuidados, não deve ser invisível aos nossos olhos, devemos reportar, é nosso dever como cidadãos e contribuintes.
E a situação de Borba era conhecida por alguns e desconhecidas por muitos mais, da mesma forma como os problemas na ponte 25 de abril, no metro de Lisboa e Porto, e em muitas barragens. Já imaginaram a ponte 25 de abril a cair? Uma das linhas do metro abater? Uma barragem "explodir"? É assustador não é?
Infelizmente não temos mãos para esse tipo de infraestruturas e estamos sempre condenados às decisões e esquecimento de quem as tem. Por isso deixo o meu mísero alerta a essa entidades: os custos de manutenção são muito inferiores aos de uma tragédia. Não têm vidas ceifadas, famílias destroçadas e indemnizações, custos de tribunal e reconstruções. Façam melhor as vossas contas. Obrigada.